Atropelamentos de animais na BR-474 continuam ocorrendo
O descaso das autoridades e a falta de prestígio político de Caratinga continuam resultando em prejuízos à economia dos municípios que margeiam a Rodovia BR 474 – estrada que liga Caratinga a Aimorés – e permitindo o atropelamento de animais nas matas da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Feliciano Miguel Abdala. Na última semana foi registrado o atropelamento de um exemplar adulto de jaguatirica (Leopardus pardalis).
A reivindicação do asfaltamento da BR 474, principalmente para o trecho entre Ipanema e o entroncamento da rodovia com a BR 116, em Caratinga, teve início há mais de 60 anos, porém, até hoje, a pavimentação asfáltica permanece inacabada.
Dos quase 160 quilômetros de extensão da BR 474, cerca de 11 quilômetros, menos de 7%, ainda permanecem em estrada de chão. Desses 11 quilômetros em estrada de chão, 3,5 fica na chegada à sede do município de Ipanema, enquanto os outros 7,5 correspondem ao trecho em que a rodovia corta a RPPN Feliciano Miguel Abdala.
No curso dos anos, a promessa de liberação de recursos para a pavimentação asfáltica da estrada se tornou um dos principais palanques eleitorais para deputados e candidatos a prefeito, senador ou governador e, por incontáveis vezes, criando na população expectativas que não passaram de promessas não cumpridas.
Somente nas últimas décadas a obra foi acontecendo, no entanto, dividida em etapas, resultando em muito desperdiço de dinheiro público, pois, a cada retomada do serviço, era necessário ser refeita parte do asfalto aplicado na etapa anterior. Porém, a conclusão da pavimentação em 100% ainda não aconteceu e, como tudo indica, está longe de se tornar realidade.
Nas duas últimas eleições gerais, os deputados votados em Caratinga e região, provavelmente por também desacreditarem de seu prestígio junto ao Governo Federal, deixaram de incluir a conclusão da obra entre as suas promessas de campanha, demonstrando que não têm mais interesse e intenção em se empenhar em conseguir a finalização do asfaltamento da rodovia.
RPPN
Uma das desculpas usadas para, até hoje, não ter sido concluído o asfaltamento da BR 474 é o imbróglio criado quanto ao trecho em que a rodovia corta a RPPN Feliciano Miguel Abdala.
Devido aos constantes atropelamentos de animais silvestres, as entidades ambientalistas, entre as quais a Preserve Muriqui, administradora da RPPN, sempre se mostraram contrárias ao asfaltamento da rodovia no trecho em que ela corta a reserva, defendendo a proposta constante no projeto original. A proposta prevê um desvio da estrada, incluindo a construção de uma ponte, para que a BR 474 deixe de passar pela RPPN.
Por sua vez, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) estava determinado a alterar o projeto original e asfaltar o trecho em que a BR 474 passa dentro da reserva, revoltando a comunidade ambientalista.
O impasse gerou a realização de uma audiência pública, em 21 de setembro de 2011, promovida pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), a pedido do então deputado Adalclever Lopes, na época presidente da Comissão de Transporte, Comunicação e Obras Públicas, para tratar da questão.
O Dnit ainda insiste em manter a rodovia cortando a reserva, porém, instalando telas nas laterais e por sobre a pista em toda a extensão em que a BR 474 passa pela reserva. Além disso, para não impedir que os animais terrestres tenham acesso ao rio, seria preciso a instalação de tuneis por sob a pista, para lhes dar passagem.
Mesmo assim, os ambientalistas discordam da proposta que, segundo eles, exigiria fiscalização e manutenção permanente das telas que, por sua vez, dificultariam a manutenção da pista, tornando o processo mais caro do que o desvio. Isso, sem falar no constante risco de que a passagem de veículos pelo interior da reserva pode originar incêndios acidentais ou intencionais.
Enquanto não se chega a um consenso, animais continuam sendo atropelados, o risco à preservação da reserva permanece e os municípios da região sofrem prejuízos em sua economia.
É comum, durante os períodos chuvosos, o tráfego de veículos entre Caratinga e Ipanema ser interrompido, suspendendo a circulação de ônibus e obrigando carros e caminhões a passarem por Manhuaçu, causando dificuldades para o escoamento de produtos agropecuários e onerando a circulação de mercadorias, com o aumento do frete. (Foto: Maximiano Genelhu)
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